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Poesias





Trans-Bordas: Apagar e Descascar
Ana Guimarães


…eu transbordo, tu trans-bordas…



As Oito Poesias e Poesias Proseadas acompanham os conjuntos de obras.

Transbordar a letra.
 



Ponto de inflexão: ponto em que uma curva toca a sua tangente.

Inflexão do corpo.

Inflexão de voz.

Mudança de tom, de acento na voz.

Desvio de uma linha, de um raio luminoso.

Ponto de inflexão, um ponto sobre uma curva na qual a curvatura troca o sinal.
Quantas vezes na vida se consegue redirecionar o barco em pleno movimento?
Não digo se deixar à deriva, ao gosto do generoso vento que consigo se identifica.
Refiro-me a fincar a alma em um ponto de inflexão.
Muitas vezes enjoada com os trancos da embarcação,
e no auge da dor,
as costelas são constelações,
ombros arqueados a mudar o rumo da nave.
Os quadris em posição de bússola apontam ondas.

Ana Guimarães​​​



​

​

IN-FLEXÍVEL
IN-CRÍVEL
IN-DÓCIL
IN-E-RENTE
IN-TANGÍVEL
IN-DETERMINADA
IN-CONSTANTE
IN-TOLERANTE
IN-TRATÁVEL
OUT

Ana Guimarães




Cal: Entre O Apagar e o Descascar
Cal virgem,
cal viva ou ordinária,
filha de Calcário, compósito sólido-pó-branco.
Ergue a massa,
a argamassa, revestindo paredes, estruturas, corpos,
aqui a serem desnudados novamente
pelos contínuos e descontínuos apagamentos e descascamentos.
Cavucar, raspar, as estruturas!
A cal em lascas, caindo por terra e permitindo ver outros elementos.
O assentar e revestir, repetidamente, orifícios apagados e descascados.
Cal hidratada,
em estado aéreo,
mas sensibilidade líquida,
aglomeradora,
reage em endurecimento pelo contato com o ar,
fazendo voltar ao estado sólido original de calcário.
Cal fresca e líquida,
em estado fresco,
dá plasticidade à massa e retém água,
revestindo e sugando líquidos excessivos.
Cal endurecida,
absorvedora das deformações,
acompanha as rachaduras da estrutura.
Diminuidora da retração-contração,
brinca de carbonatar lentamente o tempo,
tamponando fissuras ocorridas com o endurecimento da massa mista,
fragmentada,
obssessiva,
criativa.

Ana Guimarães




CALÇAR
GALGAR
CALEJAR
CAVUCAR
CONTRARIAR
DESCASCAR
… O FIM DE TODA CAL, DESVELAR…​

Ana Guimarães​
​



Rasuras de Si (menor)
… e o cobre invadindo meus punhos,
dourando meus dedos rijos,
pressão de aperto a estrangular a linha,
pressionando para o fundo,
ir afundando a madeira,
o metal,
a meta.
Fazedura de rasuras com erros bonitos.
Rasurar é bonito!
A dourar um cavalo,
ao se soltar das linhas,
dos abismos lineares,
rebeldemente cavalgando o riscado que,
em pontos nodais,
nem quer se fechar,
fazendo-se rasura.
Rasura é bonito!


A paciência do esfregar, esfregar, esfolar, esfolar a matéria que,
de repente,
deixa a caneta cavucar,
passando seus alinhavos à frente.
Doem as mãos.
Quais?
Os nós das juntas avermelhados,
tomados de energia trocada com a madeira,
o metal,
sem metas,
com metas,
sem metas…
Odes à talagarça!​

O que diz ao mundo esse pedaço de placa dura,
mole,
dura,
escorregadia?
Reflete-me,
mas não retém meus traços.
Reflete-me arcada sobre o pedaço de tora e placa dourada,
e de meu reflexo retém as rasuras,
frutos de suor e imprecisão.
Sob intensidades e pressões de caneta cravada na matéria,
ela se ri e se mostra água forte,
fraca,
mezzo forte,
imperceptível
de um risquinho ridículo que pretendia ser linha,
mas é abobada,
desbotada,
marca de caminho de pulgas,
irregular.
Bonito a irregularidade!


Faço gracejo,
regravura,
ressignificantes,
ranhura,
esquisitice,
gostosura,
enfim,
poesia!
Poesia de rir de mim,
ser motivo de brincadeira,
de jogos de força e delicadeza com a opaca madeira,
o dourado espelho duro dele mesmo,
dos fenômenos, ignorando e cedendo às forças,
às intensidades,
aos impulsos doloridos,
condoendo-se das pressões,
lustrando-se de suores,
do brilho de olhos sobre si.
Óleos sobre si (menores).​​

Ana Guimarães​






NÓDULOS NODAIS
APONTADOR DE INVISÍVEIS NOTAS INAUDÍVEIS
A LINHA É VEIO DE RIO CAVUCADO POR VONTADES
QUALIDADES SUSSURRADAS ÀS PONTAS DOS DEDOS
BRINCAM DE GRAVURAR PAPEIS TRANSLÚCIDOS
SENSÍVEIS
DESVELADORES DA TRANSPARÊNCIA DOS FENÔMENOS
DOS LÍQUIDOS A PREENCHER E ESVAZIAR SEUS VEIOS!​

Ana Guimarães​




Ovários
Desova-me!
Descasca-me tendo adentro,
afora,
agora.
O nascimento é apagado
e muitos renascimentos acontecem
sem que se perceba parido novamente.
As cascas rompidas,
corrompidas,
rachadas,
deformadas,
gerando outros de um mesmo.
Ruptura.
Terra acinzentada,
carvão,
barro,
limbo,
caminho deixado pela corrosão de ar,
água,
intensidades.

As cascas,
agora,
de feridas
teimam revestir os cortes
e formar disformes cicatrizes,
fundas,
rasas.
E o monte espesso e duro,
em relevo,
liso,
aponta,
cobrindo a ferida.
Todo mundo,
ao menos dez vezes,
já cutucou casca de ferida,
transbordando o orifício,
o vácuo,
a cavidade.
Deixando à mostra o corte,
desnudando impulsos repetitivos.
Descascando,
a olhos vistos,
seus padrões!
Ferida quase seca,
casquinha quase desaparecendo,
vai lá o afoito,
e repete a mesma ação.
Mas a vida distrai o sujeito com o brilho de outros fenômenos,
de si alheios,
e o corte se fecha,
deixando pálida mancha na pele ressequida.
Assinatura!
Ovos são vários.
Ovários são incontáveis!
Depois da fuligem,
o quê?​

Ana Guimarães​





O QUE EM SI É DENSO,
É ELEMENTO, É INERTE E ESTÁ ATENTO
À ATENÇÃO DOS HOMENS.
PODE EM SI SER A VIBRAÇÃO MAIS COMPLETA.​

Ana Guimarães​



 

​
​


IN-FLEXÍVEL
IN-CRÍVEL
IN-DÓCIL
IN-E-RENTE
IN-TANGÍVEL
IN-DETERMINADA
IN-CONSTANTE
IN-TOLERANTE
IN-TRATÁVEL
OUT
- esperava o que?
Ana Guimarães




Cal: Entre O Apagar e o Descascar
Cal virgem,
cal viva ou ordinária,
filha de Calcário, compósito sólido-pó-branco.
Ergue a massa,
a argamassa, revestindo paredes, estruturas, corpos,
aqui a serem desnudados novamente
pelos contínuos e descontínuos apagamentos e descascamentos.
Cavucar,
raspar,
as estruturas!
A cal em lascas, caindo por terra e permitindo ver outros elementos.
O assentar e revestir repetidamente orifícios apagados e descascados.
Cal hidratada,
em estado aéreo,
mas sensibilidade líquida,
aglomeradora,
reage em endurecimento pelo contato com o ar,
fazendo voltar ao estado sólido original de calcário.
Cal fresca e líquida,
em estado fresco,
dá plasticidade à massa e retém água,
revestindo e sugando líquidos excessivos.
Cal endurecida,
absorvedora das deformações,
acompanha as rachaduras da estrutura.
Diminuidora da retração-contração,
brinca de carbonatar lentamente o tempo,
tamponando fissuras ocorridas com o endurecimento da massa mista,
fragmentada,
obssessiva,
criativa.
Ana Guimarães


CALÇAR
GALGAR
CALEJAR
CAVUCAR
CONTRARIAR
DESCASCAR
… O FIM DE TODA CAL, DESVELAR…​
Ana Guimarães​
​



Rasuras de Si (menor)
… e o cobre invadindo meus punhos,
dourando meus dedos rijos,
pressão de aperto a estrangular a linha,
pressionando para o fundo,
ir afundando a madeira,
o metal,
a meta.
Fazedura de rasuras com erros bonitos.
Rasurar é bonito!
A dourar um cavalo,
ao se soltar das linhas,
dos abismos lineares,
rebeldemente cavalgando o riscado que,
em pontos nodais,
nem quer se fechar,
fazendo-se rasura.
Rasura é bonito!
A paciência do esfregar, esfregar, esfolar, esfolar a matéria que,
de repente,
deixa a caneta cavucar,
passando seus alinhavos à frente.
Doem as mãos.
Quais?
Os nós das juntas avermelhados,
tomados de energia trocada com a madeira,
o metal,
sem metas,
com metas,
sem metas…
Odes à talagarça!​

O que diz ao mundo esse pedaço de placa dura,
mole,
dura,
escorregadia?
Reflete-me,
mas não retém meus traços.
Reflete-me arcada sobre o pedaço de tora e placa dourada,
e de meu reflexo retém as rasuras,
frutos de suor e imprecisão.
Sob intensidades e pressões de caneta cravada na matéria,
ela se ri e se mostra água forte,
fraca,
mezzo forte,
imperceptível
de um risquinho ridículo que pretendia ser linha,
mas é abobada,
desbotada,
marca de caminho de pulgas,
irregular.
Bonito a irregularidade!
Faço gracejo,
regravura,
ressignificantes,
ranhura,
esquisitice,
gostosura,
enfim,
poesia!
Poesia de rir de mim,
ser motivo de brincadeira,
de jogos de força e de delicadeza com a opaca madeira,
o dourado espelho duro dele mesmo,
dos fenômenos ignorando e cedendo às forças,
às intensidades,
aos impulsos doloridos,
condoendo-se das pressões,
lustrando-se de suores,
do brilho de olhos sobre si.
Óleos sobre si (menores).​​
Ana Guimarães​







NÓDULOS NODAIS
APONTADOR DE INVISÍVEIS NOTAS INAUDÍVEIS
A LINHA É VEIO DE RIO CAVUCADO POR VONTADES
QUALIDADES SUSSURRADAS ÀS PONTAS DOS DEDOS
BRINCAM DE GRAVURAR PAPEIS TRANSLÚCIDOS
SENSÍVEIS
DESVELADORES DA TRANSPARÊNCIA DOS FENÔMENOS
DOS LÍQUIDOS A PREENCHER E ESVAZIAR SEUS VEIOS!​
Ana Guimarães​



Ovários
Desova-me!
Descasca-me tendo adentro,
afora,
agora.
O nascimento é apagado
e muitos renascimentos acontecem
sem que se perceba parido novamente.
As cascas rompidas,
corrompidas,
rachadas,
deformadas,
gerando outros de um mesmo.
Ruptura.
Terra acinzentada,
carvão,
barro,
limbo,
caminho deixado pela corrosão de ar,
água,
intensidades.

As cascas,
agora,
de feridas
teimam revestir os cortes
e formar disformes cicatrizes,
fundas,
rasas.
E o monte espesso e duro,
em relevo,
liso,
aponta,
cobrindo a ferida.
Todo mundo,
ao menos dez vezes,
já cutucou casca de ferida,
transbordando o orifício,
o vácuo,
a cavidade.
Deixando à mostra o corte,
desnudando impulsos repetitivos.
Descascando,
a olhos vistos,
seus padrões!
Ferida quase seca,
casquinha quase desaparecendo,
vai lá o afoito
e repete a mesma ação.
Mas a vida distrai o sujeito com o brilho de outros fenômenos,
de si alheios,
e o corte se fecha,
deixando pálida mancha na pele ressequida.
Assinatura!
Ovos são vários.
Ovários são incontáveis!
Depois da fuligem,
o quê?​
Ana Guimarães​





O QUE EM SI É DENSO,
É ELEMENTO, É INERTE E ESTÁ ATENTO
À ATENÇÃO DOS HOMENS.
PODE EM SI SER A VIBRAÇÃO MAIS COMPLETA.​
Ana Guimarães​






 

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